fonte da imagem: www.academiadovinho.com.br |
Quando começamos a tomar vinho com um pouco mais de critério, definimos que uva gostamos, qual combina mais com o prato e está feito - os vinhos chilenos, argentinos e brasileiros, atendem largamente nossas necessidades. Se tentamos comprar um francês na prateleira do supermercado, por um preço "em conta", quando abrimos a garrafa o rumo é certo: a pia (eu passei por isso algumas vezes...).
Até pouco tempo atrás os vinhos franceses passavam longe da nossa adega, pelo custo e especialmente pelo desconhecimento. A França é repleta de pequenas vinícolas, a composição dos vinhos é bem variada e o vinho é nominado pela região. Sempre batia a dúvida, o que comprar?
Se vocês se identificaram com os parágrafos acima, a série de postagens que inicia hoje vai ser útil para conhecer um pouquinho os vinhos franceses e quem sabe incluí-los na próxima compra. Em cada postagem será comentada um região vinícola da França e as características dos seus vinhos. Pretendo encerrar com a recomendação de um vinho da referida região, que tomei e aprovei - sempre é claro, considerando minha humilde experiência no assunto e o preço que aceito pagar por um vinho do Velho Mundo.
Antes de começar a "série", uma breve introdução sobre o assunto vai ajudar a entender melhor as próximas postagens.
A legislação que rege os vinhos franceses
A viticultura francesa é um dos setores agrícolas mais controlados do mundo, toda menção no rótulo é regida por lei, e cada garrafa pertence a uma categoria distinta por ordem decrescente de prestígio:
AOC (Appellation d'Origine Contrôlée) - Cada região tem regras particulares para denominação de origem controlada. São os vinhos de melhor qualidade, provenientes de regiões delimitadas, dentro das quais existem sub-regiões também AOC, cada uma com sua classificação hierárquica para seus vinhos. Existem cerca de 450 AOC e delas provêm os melhores vinhos da França. Algumas utilizam a denominação Cru (vinhedo) para os seus melhores vinhos, como Grand Cru, Premier Cru, Deuxième Cru, etc. O sistema das AOC é controlado e regulamentado pelo rigoroso Institut National des Appellations d'Origine (INAO).
VDQS (Vins délimités de qualités superieure) - Com menos prestígio que as AOC, mas sob mesma regulamentação, constituem o segundo grau na hierarquia de qualidade e representam 1% dos vinhos franceses. Suas delimitações, menos precisas que as AOC, são em função de limites municipais.
Vinhos do país (vins de pays) - Representam cerca de 15% da produção francesa, é uma categoria especial entre os vinhos de mesa. Dividem-se em regional, departamental e local. Seu número vem aumentando, pois com uma legislação menos restritiva que a AOC, há mais liberdade para inovar.
Vinhos de mesa (vins de table) - aproximadamente 55% dos vinhedos franceses produzem vinho de mesa. São os vinhos de menor qualidade e não podem conter no rótulo o nome de nenhuma região, sub-região ou vinhedo específico, mas apenas a expressão Vin de France. São na maioria tinto e provêm das regiões do Languedoc-Roussilon, da Provence e de Córsega.
O comércio do vinho francês
Nem todos viticultores da França produzem vinhos, alguns vendem suas uvas a negociantes e outros a uma cooperativa local. No caso dos produtores, nem sempre seu vinho leva seu nome, às vezes a produção é cedida a um negociante que faz o corte com outros vinhos e o engarrafa com um nome de marca.
As regiões vinícolas
Alsácia fonte da imagem: www.almadeviajante.com |
Alsácia - Do alto das colinas arborizadas da Alsácia, pode-se ver o Reno e além dele a Floresta Negra alemã. Embora não seja raro comparar os vinhos da Alsácia com alguns vizinhos alemães, eles são na verdade mais próximos dos brancos da Áustria. A região tem muitas cepas em comum com a Alemanha: riesling, gewürztraminer, sylvaner. Também usa a pinot noir, pinot blanc e pinot gris, também conhecida pelo nome tokay da Alsácia. É o paraíso dos gastrônomos pelos inúmeros restaurantes famosos. A arquitetura pitoresca dos seus vilarejos testemunha seu rico passado. Poucas regiões conheceram tantas guerras e mudaram de nacionalidade quanto ela, devido à situação estratégica que ocupa na fronteira franco-alemã. Hoje, é francesa, mas não deixa de afirmar sua particularidade pelo apego ao dialeto, seu espírito regionalista e seus vinhos únicos.
Bordeaux - Bordeaux se localiza no departamento de Gironda, sudoeste da França, e sua produção vinícola se concentra às margens de dois rios principais, o Garonne e o Dordogne. A região costuma ser dividida em três partes: margem esquerda, margem direita e Entre-Deux-Mers, que se dividem ainda em várias sub-regiões - entre as mais famosas destacam-se Médoc, Graves, Pomerol e Saint-Émilion. Mais de 80% da produção vinícola é de vinhos tintos e é inevitável a associação do nome Bordeaux com vinhos estruturados e elegantes, marcados pela predominância da Cabernet Sauvignon e Merlot. Dentre os brancos, são produzidos vinhos excepcionais, graças à "podridão nobre" que ataca a Sémillon e a Sauvignon Blanc.
Borgonha - O clima da Borgonha apresenta invernos rigorosos e primaveras com muita geada, mas devido a posição favorável dos seus vinhedos, em encostas, as uvas ficam protegidas das geadas e dos ventos. Elaborado com apenas com uma uva, a pinot noir, os vinhos tintos da Borgonha são claros e delicados. A pinot noir é conhecida como uma uva caprichosa e por isso pode produzir vinhos excelentes ou lamentáveis, de acordo com as condições climáticas e peculiaridades do terroir. Outras uvas também são produzidas na Borgonha e dão origem a vinhos vinculados a determinadas sub-regiões, como o Beaujolais, vinho jovem elaborado com a uva gamay, e o espumante Crémant de Borgogne, elaborado com a aligoté. A chardonnay destaca-se nos diferentes terroirs da Borgonha por sua adaptabilidade. O vinhos produzidos com ela na Borgonha são tidos como os melhores brancos do mundo.
Champagne fonte da imagem: parisalacarte.wordpress.com |
Champagne - A região de Champagne se localiza no norte da França e faz o espumante mais prestigiado do mundo. Champagne é AOC, portanto só os espumantes produzidos nesta região podem ter este nome. As inúmeras maisons somam cerca de 12 mil marcas, cujas principais sub-regiões produtoras são Épernay, Reims e Aÿ. A vinha é cultivada na região desde o século I e o vinho espumante surgiu de um processo natural e de um conjunto de circunstâncias, como a dupla fermentação, caracterizada por variações climáticas da região. No final do século XVII, com o surgimento da rolha, percebeu-se que o vinho se conservava mais tempo em garrafa que em barril e depois disso, Don Pérignon foi o responsável por desenvolver o método champenoise, que virou modelo de produção para os espumantes em todo o mundo. As três uvas permitidas para se produzir o Champagne são as tintas pinot noir, pinot meunier e a branca chardonay. A maioria dos Champagnes é concebida para consumo em dois ou três anos, mas existem os mais estruturados, que podem evoluir em garrafa por mais tempo. O Champagne rosado é de difícil elaboração na região, o que o torna especial e complexo.
Vale do Rhône fonte da imagem: papodevinho.blogspot.com |
Rhône - O Vale do Rhône tem várias regiões diferenciadas. De norte a sul, os cerca de 200 km que separam Vienne de Avignon produzem desde os tintos aromáticos de Côte-Rôtie, com predomínio de shiraz, até os vigorosos tintos de Hermitage, o vinhedo mais famoso da região, além dos jovens frutados à base de grenache da zona mediterrânea de Côtes du Rhône. O norte da região tem clima continental, com primaveras suaves e verões quentes. Para o sul, o clima se torna mediterrâneo. No conjunto da região são cultivadas cepas tintas e brancas, mas nem todas costumam dar bons vinhos nas mesmas localizações. O norte é caracterizados pelos tintos escuros e carnosos. Os tintos do sul procedem de várias cepas e têm aromas muito frutados, às vezes com toques de especiarias ou que lembram ervas secas. Os brancos do norte oferecem um contraste entre os vinhos robustos feitos de Marsanne e os delicadamente frutados de Viognier. O sul, árido, até agora tinha produzidos brancos sem destaque, mas a situação está mudando.
Vale do Loire - O mais longo rio francês, o Loire, corre numa paisagem de colinas, campos verdes e vinhas, margeando châteaux e cidades tranquilas. O Vale do Loire, que é uma das regiões vinícolas mais extensas da França, produz uma gama de vinhos tão rica que é difícil encontrar neles características em comum. Vai de vinhos brancos secos aos licorosos, tintos leves ou intensos, passa pelos rosados secos ou doces e pelos crémants. A flutuação do clima é responsável por tanta variedade. Destacam-se três grandes regiões vinícolas: Sancerre e Pouilly, que produz vinhos brancos frutados e herbáceos, graças à cepa sauvignon blanc; as vastas extensões de Touraine e de Anjou, com toda uma família de vinhos brancos não espumantes e espumantes, e a maior produção de vinhos tintos do Loire; o baixo Loire é a última região que produz um vinho branco frutado, que evoca o mar.
Existem ainda outras regiões vinícolas de menor expressão, que a princípio não valem uma postagem exclusiva, mas podem aparecer no final da "série", caso eu encontre um vinho que valha a pena comentar (e comprar). Não sei quando as postagens serão feitas, pois pretendo associá-las sempre a um vinho que tomei. Na viagem, pretendemos provar vinhos de todas as regiões vinícolas citadas nesta postagem, portanto é possível que o assunto engrene só na volta. Estamos programando conhecer as regiões de Borgonha e Champagne, então é certo que vou ter muuuuita enohistória pra contar...
Por hora, os Bordeaux estão presentes na nossa adega e nos últimos tempos tivemos boas experiências, portanto, esta será a primeira região vinícola comentada... Farei a postagem nos próximos dias, sem pressa, pois o tempo anda curto e eu tenho uma séria dificuldade em ser sucinta, rsrsrs.
Fontes consultadas:
Revista Adega, n° 57;
Larousse do Vinho, 2° edição, 2007;
http://www.academiadovinho.com.br
Fontes consultadas:
Revista Adega, n° 57;
Larousse do Vinho, 2° edição, 2007;
http://www.academiadovinho.com.br
Jú, amei o post querida! Você está uma conhecedora de vinhos espetacular heim! E os preparativos pro casório, como vão?
ResponderExcluirBeijokas,
Fabi
P.S. Passa lá no blog que tá rolando promoção, valendo um livro de cozinha da Wilma Kovesi
Oi Ju,
ResponderExcluirGosto muito de ler sobre vinhos, e digo que finalmente estou conseguindo fazer um curso de iniciação ao vinho...meio que repetição do que eu já sabia, mas está valendo bem à pena, sabia?
O duro é ter grana pra comprar os vinhos que a gente tem vontade provar né?
O negócio é participar das degustações, que infelizmente acontecem por aqui a passo de tartaruga...
E voce, como vai, já casou? rsss
Mostra as fotos pra gente ok?
Abraço grande,
Rê
Fabi e Rê! O evento do casório vai ser no começo de outubro, na véspera da viagem, então acho que só vou conseguir fazer postagem na volta! É um evento simples, só uma janta, não tem muito detalhe pra se preocupar... Já está tudo organizado, agora é só esperar chegar o dia! Como vai ser na adega de uma vinícola em outra cidade, vou chegar no dia de "convidada", rsrsrs. O pessoal da Valduga tem um serviço impecável, então estou bem tranquila. Beijos, Ju
ResponderExcluirJu,
ResponderExcluirSempre passarei aqui para aprender sobre vinhos.
Felicidades no casamento.
Bjs
Juliana,
ResponderExcluirLi seu post logo depois de você postar. Talvez porque desse assunto eu entendo um pouquito.
Na verdade meu irmão e minha mãe são verdadeiros especialistas no assunto e eu entrei de "gaiata" na história.
Mas não é só de vinhos que vou falar. E sim do que você colocou hoje aqui.
Em 2008 fiz uma viagem, com minha família, cultural, eno-gastronômica para a França.
Comecei por Paris - que foi excessivamente cultural e depois fui visitar vinícolas e participar de degustações partindo de Paris - passando pelo Vale do Loire (aqui visitei todos os castelos da região) - indo para Beaune na Borgonha (que por sinal possui vinhos de altíssima qualidade e famosos: como o Romanèe Conti) depois fui para a Alsace (ameiiiii) e finalizei em Champagne (amo mais do que vinho tinto).
Bem... acho que revivi tudo ao ler seu post de hoje, por isso comentei tanto! rs
Beijos
Oi Ju, noossaa, ótimo post... vai virar uma referencia prá mim :-)
ResponderExcluirBjks
Má
Oi JU, que post fantástico. Você sabe TUDO de vinhos. Expert!
ResponderExcluirMuito interessante as minúcias na sua explicação, e ainda por cima com fotos belíssimas.
Adorei a sua idéia de casório. Simples, íntimo e especial. Mais felicidades para você.
Beijos e boa semana
Oi Jú! Seja bem vinda ao meu blog! Obrigada pela visita. Vamos combinar sim de vc conhecer esses pequenos!
ResponderExcluirAdorei seu post! Amo beber vinho, mas com a gravidez e a lactação acabei me afastando,... agora estou querendo ensaiar algumas degustações,...mas quando penso que tenho a madrugada pela frente,...hehehehehe, vou esperar mais adiante. Não conheço vinhos franceses, só mesmo chilenos (amo Santa Helena, mais em conta e delicioso!), e argentinos e brasileiros.
Bem queri, vou acompanhar teu blog pois vi que tem muita coisa interessante por aqui! Beijão.
Querida Ju, a viagem pela Franca foi otima, postei fotos no LViajante, veja la. adorei tud, Sei que vais gostar, Um beijao!
ResponderExcluirCarla
Ju querida seu blog é uma delícia, pois além dos pratos divinos que vc nos mostra, tbem aprendemos mais sobre diversos assuntos, adorei o post queridona, parabéns, bjkas e uma boa noite para vc, ;)... ♥!!!
ResponderExcluirEu comprei um francês outro dia (meu primeiro! fiquei emocionada), mas não lembro o nome. Provei na adega e ele era bem saboroso. Vou pegar o nome em casa e te passo depois. Mas olha, que essa classificação deles é bem difícil, isso é!
ResponderExcluirOiiiiiii Ju, tudo bem???
ResponderExcluirFiquei sumida um tempo mas to de volta...
E como estão as coisas???
O seu blog como sempre maravilhoso e cheio de receitas deliciosas e dicas de vinhos chiquetérrimas, eu queria conhecer de vinhos como vc!!!
Adorei o post...
Saudades
Bjocas
Re