Senta que lá vem história... Pega uma café, ou uma taça de vinho, pois essa postagem ficou longa!
Essa semana uma amiga pediu dicas sobre Mendoza e antes de eu começar a escrever um email enorme, lembrei que não tinha contado sobre essa viagem no blog.
Sendo assim, aqui estou, com pouco mais de um ano de atraso, para contar um pouquinho sobre a minha passagem por Mendoza em fevereiro de 2014.
Vinhedos em frente à Bodega Septima |
A Cidade:
Mendoza é a capital da província de Mendoza na Argentina, do "lado de cá" da Cordilheira dos Andes. Chegamos de avião via Buenos Aires, pois antes passamos uns dias por lá, mas reza a lenda que bom mesmo é ir até Santiago, no Chile, e pegar um ônibus que atravessa as cordilheiras.
A cidade é pequena, tem uma praça central (Plaza Independencia) e o comércio, hotéis e restaurantes se localizam em seu entorno. Para conhecer melhor a cidade, a dica é pegar um daqueles ônibus turísticos que fazem um citytuor bem completo. O trajeto do citytour sai da área central e vai até o Cerro de la Glória, que realmente tem uma vista linda. Destaque para o Parque General San Martin, que é enorme e super bem cuidado (http://www.mendozacitytour.com/).
Achei a cidade simpática, mas sem muitos atrativos... Fomos no verão, acho que o turismo de inverno traz outras opções, como estação de esqui, mas nessa época, o único programa por lá é visitar vinícolas (o que era nosso objetivo, então, missão cumprida!).
As Vinícolas:
Mendoza é a principal região argentina produtora de vinhos, conhecida e reconhecida mundialmente pelos seus Malbecs. As vinícolas estão localizadas em diferentes regiões da província, como o Vale do Uco, Maipú, Lujan de Cuyo, entre outras. Na cidade de Mendoza não tem vinícolas, então, uma das primeiras coisas da programação da viagem, é decidir como será feito o deslocamento entre elas... As principais opções são: tour com agências de turismo (existem várias pelo centro de Mendoza com pacotes de visitação), contratar um motorista (os hotéis oferecem essa opção, mas achei o preço surreal, é bom se informar porque existe um "mercado paralelo" bem mais acessível) ou alugar um carro. Optamos pela terceira opção, o que sem dúvidas, nos deu mais autonomia e independência. O maior problema era beber e dirigir, mas como estávamos em três, nos revezamos na direção... Além disso, as degustações nas vinícolas são sempre muito moderadas, então foi tranquilo. Importante salientar que as estradas não são bem sinalizadas e as vinícolas ficam, algumas vezes, um pouco escondidas, por isso é imprescindível alugar um carro com GPS ou levar o seu. Recomendo carregar as coordenadas das vinícolas antes, para não se perder pelos vilarejos e estradas de chão batido que não levam a lugar algum.
A vantagem de alugar o carro é poder decidir na hora para onde ir, passar pela porteira de uma vinícola conhecida e entrar, não ficar preso à programação e horários... Tivemos muita sorte nessa proposta "mais livre", mas poderíamos ter nos frustrado bastante com a falta de planejamento prévio. Acostumados com as vinícolas de Bento Gonçalves, na serra Gaúcha, que são totalmente preparadas para receber turistas e têm sempre as portas abertas, não contávamos que por lá, sem hora marcada, não se entra na maioria das vinícolas. Por sorte, mais de uma vez, escapamos de dar com a cara na porta, pois chegamos bem na hora em que alguém já havia marcado uma visitação, e assim conseguimos entrar.
Outra coisa importantíssima que só descobrimos quando chegamos lá: 99% das vinícolas não abrem no domingo! Por sorte ficamos 4 dias e isso não nos atrapalhou, mas não contávamos com essa...
A seguir, vou falar um pouquinho de cada uma que visitamos.
Uma das únicas que abre domingo e uma das poucas onde é só chegar, pois tem visitação de hora em hora... Definitivamente é a que mais investe em turismo na região. O lugar é lindo e eles são mega atenciosos. A visitação é feita em grupo e começa falando da família, história, passa pela produção, tanque de inox, barris de carvalho, aquela coisa de sempre... A degustação é com o Santa Julia, uma linha mais popular e fácil de encontrar no Brasil. Após essa visitação guiada, esperamos baixar a "poeira" e ficamos por lá para conhecer o outros vinhos e também os azeites. Eles tem vinhos superiores, realmente bons e também investem forte na produção de azeites. O azeite top é o Bravo, realmente excelente... Compramos uma garrafa e ficamos desolados quando acabou, pois não encontramos para vender aqui.
A bodega tem dois restaurantes, o Casa del Visitante que é maior, e o Pan y Oliva com uma proposta mais intimista. Optamos pelo segundo e não nos arrependemos, o lugar é super charmoso e a comida ótima. Por fim, ainda foi possível fazer uma visitação na fábrica de azeites e conhecer o processo produtivo. Passeio sem pressa, que durou horas e horas... E salvou nosso domingo!
Lugar lindo e com uma das visitações mais legais que já fiz. O tour começa degustando um espumante, segue com um passeio pelos vinhedos e depois vamos para a linha de produção. A degustação do um mesmo vinho é feita em estágios diferentes: no tanque de inox, no barril de carvalho e por fim, na garrafa. Obviamente, nos estágios anteriores à garrafa o vinho ainda não estava pronto para o consumo, mas achei muito legal conhecer a evolução dele. Realmente este foi um diferencial, ainda não tínhamos passado por uma vinícola com esta proposta.
Um daqueles casos em que tivemos sorte, pois na hora chegou um casal que já havia agendado visitação e aproveitamos a carona. Eu ficaria mega decepcionada se não conhecesse essa vinícola, pois ela é uma das nossas "queridinhas". Os vinhos são ótimos. O Punto Final é o nosso vinho do dia a dia, e os superiores também fazem parte da nossa adega. A vinícola é pequena, não há muito o que se ver na visitação, mas aprendemos algumas coisas interessantes sobre a irrigação dos vinhedos, que é feita com a água do degelo dos Andes, e sobre a produção do Enamore, um dos vinhos top da vinícola, onde a uva passa por uma leve passificação, por isso, apesar de ser seco, tem um sabor adocicado. O ponto alto foi a degustação no jardim, em um lugar mega agradável. Frustada fiquei ao saber o preço de comercialização dos vinhos deles... O Punto Final custa cerca de R$ 15,00 lá e aqui está beirando os R$ 40,00!!! Que tristeza esse monte de impostos que pagamos...
Nessa vinícola não fizemos visitação, fomos apenas ao restaurante. Circulamos pelos salões da bodega e vinhedos e o lugar é muito bonito, vale a visita. O restaurante era ótimo, atendimento excelente e a vista maravilhosa. Super recomendado.
Acabamos nos prolongando no almoço e perdemos a última visitação guiada da tarde (por volta de 16 horas). Confesso que não fiquei muito triste, pois as visitações não são muito baratas e a gente acaba vendo mais do mesmo... Já visitei mais de 30 vinícolas, em diferentes países, então fico um pouco entediada em ver tanque de inox e barrica de carvalho de novo, de novo, e de novo... A parte boa foi que perdemos a visitação guiada, mas nos permitiram fazer uma "visitação livre"! Circulamos sem restrição pela adega e pela torre, o prédio é lindo, referência na enoarquitetura. A loja ainda estava aberta, então conseguimos comprar algumas garrafas, além de um livro da Laura Catenas (Vino Argentino), que já era meu sonho de consumo há algum tempo.
Bodega pequena, lugar aconchegante e a visita é muito agradável. Não há muito para ver, mas tem a história da família, do lugar, vale a pena. Observei que as bodegas de Mendoza usam bastante tanque de concreto.... Pelo que eu entendi esse é um modo de armazenamento mais antigo, que foi parcialmente substituído pelo inox, mas agora está voltando. A degustação nesse bodega é feita dentro de um antigo tanque de concreto, que foi adaptado para uma sala de degustação, o que dá um charme a mais à visitação.
Nem tudo são flores... Essa foi a minha única decepção entre as visitações que fizemos. É uma vinícola grande, do grupo Concha y Toro. Achei muito comercial, sem nenhum diferencial, visita rápida no pacote: tanque de inox + barril de carvalho + degustação sem graça. Desconfio que fomos prejudicados, pois fizemos a visita junto com um rapaz que estava com o pé quebrado e utilizando muletas, talvez a guia (muito despreparada enologicamente, diga-se de passagem) tenha otimizado a circulação em função disso, mas enfim... Não curti. E para completar, na hora de ir embora, eles estavam com problema na máquina de cartão, e demoramos um tempão para conseguir sair de lá.
Última vinícola e grata surpresa. Confesso que tinha um pouco de preconceito, pois só conhecia sua linha mais popular, mas mudei de opinião. A visitação é muito organizada, o lugar é bonito e preparado para receber turistas. Antes do tour tem um video sobre a vinícola, que é bem antiga e reconhecida por lá... Fica próxima a uma linha férrea desativada que faz parte da história do lugar. A degustação traz vinhos excelentes e sai um pouco da linha dos Malbecs, apresentando outras possibilidades da região. As instalações são elegantes, incorporando à arquitetura, elementos antigos e novos, com bastante madeira e vidro. Eles disponibilizam bicicletas para fazer um tour pelas vinhedos (nem cogitamos, pois pegamos uma onda de calor infernal!).
"Resumidamente", é isso. Ah! Faltou a dica do hotel. Hotéis não faltam por lá. Ficamos no Diplomatic Hotel. Reservei pelo Booking e recomendo, é ótimo.
Acho que depois dessa fico mais um ano sem escrever no blog ;)